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  • Foto do escritorGustavo Fuhr

O caso da vampira de Rhode Island


Romantizados ou cruéis, os vampiros hoje em dia tomam as telas e as páginas dos livros como seres folclóricos e mitológicos, sugadores de sangue humano ou benfeitores que utilizam de sua capacidade para fazer o bem, como no filme Blade. De toda forma, está concretizado no imaginário social que a figura dos vampiros é obra de ficção e que tais seres não existem em nosso mundo real. Mas não foi sempre assim.

No século 19, houve uma epidemia de tuberculose nos EUA, ceifando inúmeras vidas de forma rápida e devastadora. Chamada de ‘’Consumo’’ na época, a doença não era plenamente conhecida, portanto os meios de tratamento eram ineficazes. Os sintomas da doença eram fadiga, suores noturnos e tosse intensa acompanhada por catarro branco ou até mesmo sangue. Em decorrência dos sintomas, a pessoa ia perdendo suas forças e desvanecendo lentamente, o que contribuiu para difusão de mitos em torno da doença.

Os médicos orientavam aos afetados a descansar e exercitar-se ao ar livre. O tratamento era tão ineficaz que o número de mortes era imenso, levando a vida de 80% das pessoas que contraíam a doença de forma ativa.


A Família Brown

Um agricultor chamado George Brown talvez tenha sido uma das maiores vítimas da tuberculose. Residindo em Exeter, Rhode Island, a família foi responsável pelo pânico geral e pela difusão da história da existência de vampiros (não eram chamados assim na época, mas eram associados com figuras demoníacas e que sugavam a vida das pessoas). Em 1884, a esposa de George, Mary Brown, foi a primeira da família a falecer por causa da doença.


Em 1888, apenas quatro anos após a morte da mãe, a filha mais velha de George, Mary Olive, morreu da mesma doença. Em 1890, Edwin, único filho homem de George, também contraiu tuberculose. Um ano depois o estado de Edwin piorou e seu pai decidiu envia-lo para as montanhas, em Colorado Springs, onde o clima era melhor e a doença poderia ser curada pelo ar puro e tratamento especializado. A viagem não funcionou e quando Edwin voltou a Exeter seu estado estava ainda mais grave. No mesmo ano, Mercy Brown, filha mais nova, contraiu a doença e também morreu.


Conto popular e a exumação dos corpos


Com a morte de Mercy e o agravamento no quadro de Edwin, George Brown decidiu recorrer a crendices e rituais da época, desesperado para salvar o único filho restante. A superstição conta que de alguma forma, o corpo de um dos membros da família estaria em bom estado mesmo depois de morto, sendo possível encontrar sangue no seu coração. Tal membro seria o responsável pelos constantes ataques da tuberculose em diferentes membros da família, ceifando a vida de todos.

Caso isso acontecesse,a pessoa seria considerada um vampiro, portanto, o causador de todo o mal da família, já que este permaneceria vivo se alimentando de seus familiares. Em março de 1892, George, alguns aldeões e um médico decidiram retirar os caixões das covas e exumar os corpos de Mary Brown e Mary Olive. Era inverno e houve dificuldade em cavar a terra congelada, mas os homens foram valentes e abriram as covas da mãe e da filha.


Dentro delas, foi encontrado dois esqueletos decompostos devido ao tempo da morte. Quando a tumba de Mercy Brown foi aberta, havia um corpo conservado, sem decomposição, após nove semanas da morte. Foi encontrado sangue no coração e no fígado de Mercy, o que foi suficiente para causar pânico nos aldeões e em toda Exeter, afirmando que o vampiro e causador de todas as mortes na família Brown era Mercy.

Algumas fontes dizem que o corpo não estava na posição em que foi enterrado e que houve crescimento nos cabelos e nas unhas do cadáver. Tal condição não pode ser confirmada e poderia ser parte do folclore local, sendo acrescentadas para causar mais impacto e medo nos cidadãos. A história da vampira Mercy Brown se espalhou como um vírus, surgindo relatos de que moradores haviam visto a menina caminhando pelo cemitério a noite.


Ritual


Descoberta a causa da maldição dos Brown, um médico retirou o coração e o fígado de Mercy. Os órgãos foram queimados até virarem cinzas.

O ritual local indicava que para Edwin se livrar da doença, as cinzas dos órgãos de Mercy deveriam ser misturadas em um chá. O filho deveria consumir a bebida e seria o suficiente para se livrar da tuberculose. O chá não curou Edwin e o garoto morreu dois meses depois, mostrando que a prática sobrenatural não tinha funcionado.


A razão para Mercy ser um vampiro


Analisado posteriormente, foi declarado que o corpo de Mercy tinha sido armazenado acima do solo em temperaturas congelantes, para que fosse enterrada quando a terra descongelasse. A condição manteve o corpo intacto, como se este tivesse sido armazenado em um freezer. Isso não explica o crescimento do cabelo e das unhas nem o movimento do corpo dentro do caixão, mas tais acontecimentos não foram confirmados, podendo ser parte das histórias e boatos de Exeter. No início do século 20, a tuberculose foi devidamente compreendida e tratada, havendo melhorias na higiene e na nutrição das pessoas. A ligação entre a doença e o vampirismo foi lentamente se dissipando, mas Mercy Brown permanece na memória de todos. O cadáver foi enterrado em um cemitério local, sem fígado e sem coração, e atraí turistas ao local, curiosos para conhecer a história da vampira.


Cultura popular


A história da vampira de Exeter se espalhou com tamanha forma que inspirou vários autores, como a escritora Caitlín R. Kiernan, em sua história “So Runs the World Away”. Grandes autores como Bram Stoker(Dracula) e H.P. Lovecraft( The Call of Ctullhu) teriam tomado conhecimento da história de Mercy por meio de jornais da época, o que serviu de inspiração para histórias e personagens.


A escritora Sarah L. Thomson também se inspirou na história dos Brown para escrever seu romance adulto, de nome Mercy: O último vampiro de New England. O podcast Lore também fez uso da história de Mercy em seu primeiro episódio, tornando-se posteriormente uma série de tv, que também contou em seu primeiro episódio a história da vampira.

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