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  • Foto do escritorGustavo Fuhr

A saga do Derby County

Atualizado: 31 de jul. de 2019

Capítulo 1


Uma pequena equipe da cidade de Derby, na Inglaterra, teria sua história completamente alterada com a chegada de um técnico brasileiro louco para fazer história. Com método de jogo misterioso e nome diferenciado, Luis Berinjela é o maior técnico da história do clube com três anos de caminhada. Chegou ao clube em 2017, dentro de um projeto colossal, mas sem um líder que poderia ser o cérebro de todo o esquema. O dono do clube estava nadando em dinheiro, viu que o trabalho de Berinjela em categorias de base no Brasil vinha se destacando e prestou mais atenção no treinador. Com um trabalho tímido em um time da segunda divisão da liga brasileira, Berinjela foi requisitado para uma reunião na Inglaterra. Seu sexto lugar com a equipe do Tupi, de Minas Gerais, o credenciou para assumir o Derby na Championship, segunda divisão da Inglaterra, com um alto investimento e total liberdade econômica.


Com a experiência com categorias de base, o projeto inicial era montar uma equipe qualificada para obter um forte time em algum tempo. Porém, Berinjela precisava de números. Com todo o dinheiro que recebeu, a tarefa era: Conseguir o acesso, á todo custo. Nesses moldes, categorias de base estariam descartadas, ao menos por hora. A ideia de Berinjela foi à seguinte: Temos muitos talentos dentro da América do Sul, temos um projeto inovador e atrativo a qualquer jovem, usaremos tudo isso para contratar jogadores que tem enorme potencial futuro. Era uma jogada arriscada, a segunda divisão inglesa é um campeonato difícil, muitos jogos, muitas viagens e um estilo de jogo muito rápido e físico. Os jogadores sul-americanos são conhecidos pelas suas técnicas notáveis quando se trata das quatro linhas. Com uma equipe forte de observação, Berinjela exerceu seu poder na América, principalmente sobre a Argentina, da onde tirou três dos 12 jogadores contratados para a primeira fase de trabalho.


Com o elenco devidamente formado, um estilo e padrão de jogo eram necessários. Eram todos jovens jogadores, o mais caro deles era o atacante Lautaro Martínez, argentino destaque no campeonato local pelo Racing, custou 17M de libras aos cofres do Derby. Outros de quem se era muito esperado era do goleiro argentino Agustín Rossi e o meia-armador Nicolás Benedetti, que chegou com muita expectativa após uma bela temporada pelo Deportivo Cali, da Colômbia. A montagem do elenco teve certa dificuldade, principalmente pela barreira lingüística. Eram jogadores de diversas nacionalidades e culturas, todos jovens e recém-chegados nos times profissionais, abraçando um projeto gigantesco. O primeiro semestre foi, em números, sensacional. A equipe entrou invicta no segundo turno e sempre figurando entre os quatro primeiros. O estilo de jogo era convencional, uma equipe forte defensivamente, com o experiente e capitão do time Curtis Davies no comando de jovens talentos na defesa. O paraguaio Blas Riveros, argentino Alan Franco e o galês Joe Ledley completavam a linha de 4 defensores. No meio-campo, Berinjela entendia como providencial ter a posse da bola. Assim, colocou quatro jogadores nesse setor do gramado. Bruno Xadas, destaque do campeonato português, chamou a atenção por ser polivalente, podendo atuar pelas pontas e centralizado, por essa razão era um dos favoritos e com cadeira cativa no time, sendo responsável pelo início das jogadas. Com tamanha qualidade do português, George Thorne era o escolhido para jogar ao seu lado. Já estava no Derby com a chegada de Berinjela e cresceu muito pelo fato de, possuir boa estatura e grande qualidade defensiva. O time já possuía um principal jogador, que atendia pelo nome de Matej Vydra. O tcheco de 23 anos era tecnicamente o melhor do time e parecia intocável no elenco. Berinjela o sacou imediatamente, colocando entre os reservas, muitas vezes, nem entre eles.


Capítulo 2


Mostrando-se muito rigoroso com a defesa, Berinjela tomava pouquíssimos gols, mas também não os marcava. Foi em um jogo importante, contra o Sheffield United, que Berinjela achou o diferencial para sua equipe. Vydra entrou na vaga do sul-africano Phakamani Malahmbi, jovem promessa, mas que não vinha apresentando bons resultados. O tcheco marcou os dois gols da partida e levou a vitória pra casa. Desde então, Vydra figurou entre alterações regulares até assumir a titularidade da equipe. O time estava em segundo lugar, invicto, não assumia a liderança por conta dos tantos empates, 11 em 21 rodadas da liga, a maioria pelo placar de 0x0. Aston Villa liderava com três pontos de folga, varrendo seus adversários e se mostrando um rival difícil a ser batido. No seu primeiro confronto, um jogo pegado que terminou por 1x1. O Derby impunha seu jogo contra uma defesa sólida. Jogava em casa, tinha as virtuais obrigações de atacar e o fez. Quem marcou um belo gol foi o jovem Marcus Edwards, revelação do Tottenham contratada a preço de banana em um belo negócio de Berinjela. O jogo se mostrou uma partida complicadíssima até que, o artilheiro do clube e do campeonato, Jonathan Kodija, empatasse com uma bela cabeçada aos 79 minutos de jogo. Porém, um respiro foi dado. O Derby poderia jogar frente a frente, atacando, também, os fortes adversários.


Porém, quanto mais alto se sobe, maior é a queda. E sempre há a queda. Ainda invicto após 23 rodadas, o acesso era iminente na cabeça dos torcedores e da comissão técnica. Um jogo em casa, contra o Leeds United, que se encontrava no meio da tabela. Eram mais três pontos garantidos para a caminhada histórica do Derby. Mas não foi bem assim. Chris Wood marcou dois gols, e o Leeds acabou com a invencibilidade do Derby dentro de sua própria casa. Após o apito final, um silêncio estrondoso foi ouvido. Sim, o paradoxo é tão maravilhoso quando a cena que viria a seguir. Após uma forte comoção, daquelas de perda de títulos, os torcedores começaram a gritar e entoar cantos de uma maneira nunca vista. Era a vontade de Derby. Eram todos garotos ali, o mais velho era o capitão Davies, que tentava recobrar os ânimos de seus companheiros. Era o primeiro grande projeto de todos eles, o reconhecimento mundial já estava chegando, feitos históricos realizados, a derrota não parecia grande coisa vista de fora, mas com os olhos dos envolvidos, era como perder um título. A equipe que eliminou os Spurs na Carabao Cup, também o fez contra o Arsenal, caía diante de um Leeds improdutivo até tal rodada. As entrevistas foram cercadas de mistério e certo ar de desânimo. Era momentâneo. Ao chegar em casa, ver a tabela, os números, Lautaro voava na artilharia do campeonato. Rossi liderava o ranking de clean sheets da liga. O time também possuía a maior média de passes certos por jogo, 89%. Era tudo um sonho. Não era uma derrota que ia derrubar os valentes que, a seguir, fizeram uma cidade toda chorar.


Capítulo 3


O Derby estava a passos de garantir seu acesso e, com essa certa folga, voltou suas atenções para Carabao Cup. Já havia eliminado gigantes, como United e Spurs, e chegou à final do campeonato contra a sensação do momento, o Liverpool. Liderados por Salah, o time da Premier League começou com tudo pra cima dos pequenos de Derby. Ataque, ataque e ataque, era a palavra-chave dos jogadores do Liverpool, ansiando por um título. Mas o Derby era a melhor defesa de toda a Inglaterra, sofrendo apenas 24 gols em 43 jogos nesta temporada. Era sólida e se manteve assim, até que em belo lançamento do zagueiro Alan Franco, Martínez engatou a quinta marcha pelo lado esquerdo do gramado e serviu Vydra, que livre na entrada da área, não titubeou e afundou a bola na rede. 1x0. A explosão em Wembley. O sonho, o Derby, estava vencendo. O gol saiu por volta dos 60 minutos, então Berinjela retirou do jogo o meia-aberto Edwards, colocando o jovem Jamie Hanson, volante de origem, na posição. Porém, após alguns minutos, Xadas se deslocou para a posição antes ocupada por Edwards e um paredão foi formado em frente à área de Agustín Rossi. O jogo seguiu-se sem grandes perigos. A equipe do Liverpool atacava, mas, frustrada pelo grande bloqueio de Derby, ia perdendo seu ímpeto e aceitando a derrota. Então ele chegou. O apito final. Aos 95 minutos de jogo, o árbitro português José Alberto Mansinho levou o apito aos lábios pela última vez naquele dia. Era um dia histórico. Era 25 de fevereiro de 2018. Pra muitos em campo, o primeiro título de sua carreira. As primeiras lágrimas de felicidade. A torcida explodiu. O sentimento de angústia da fatídica derrota para o Leeds fora convertido em total paixão e alegria. Um título enorme, um título gigante ganho sobre um gigante. O Derby era campeão e, mais que isso, garantiria a vaga histórica para Euro League da temporada seguinte, o resultado era magnífico para tão pouco tempo de trabalho de Berinjela.


Capítulo 4


Após toda a comemoração sobre o título da Carabao Cup, as atenções se voltaram completamente para a Championship. Faltavam oito rodadas para o fim do campeonato, Aston Villa liderava quatro pontos a frente de um Derby impulsionado pelo título da copa, ambicioso para levantar mais uma taça. O acesso já era praticamente confirmado, mas o time e principalmente a torcida se cobravam por títulos. O time ia somando pontos em todos os jogos, até que, faltando quatro rodadas para o fim, o Aston Villa empata com o Sheffield em 2x2. Mais um episódio histórico viria a ser contado. A penúltima rodada do campeonato era um confronto de titãs. Uma verdadeira batalha. Aston Villa x Derby County. Não há nada mais a dizer. O jogo era em Birmingham. O sol era fraco, mas brilhava no céu. Villa Park estava abarrotado. As ruas estavam completamente lotadas. Era uma final, declarada. Surtos de violência foram relatados nos arredores do estádio, mas sem vítimas graves. Camisas roxas e brancas se espalhavam pelas ruas da cidade que era iluminada com um jogo que, era, porque não, histórico. Para muitos torcedores aquela era a primeira grande emoção com o futebol, os do Derby, empolgados pelo título recente e o acesso a Premier League, os do Villa magoados pelo rebaixamento e com ânsia de voltar com o título e de cabeça erguida. Os ânimos eram acirrados também no gramado. Eram jovens jogadores com uma considerável pressão sobre suas mentes. O árbitro apita. O jogo se inicia corrido, as duas equipes um pouco afobadas, a média de passes do Derby, sempre louvável, estava muito abaixo do normal. A primeira chance foi do Villa. A segunda. E a terceira. Na quarta chance, um belo chute de Jack Grealish entra no canto de Rossi, 1x0 para os de Birmingham. Apesar do resultado adverso, o gol deu uma chacoalhada nos garotos, que aos 37 minutos empataram, com Alan Franco em bola aérea. Após o intervalo, algumas mudanças, mas nada muito brusco. Um ânimo surge quando Mahlambi vem a campo. Empolgado, o sul-africano incendiou a partida. Aos 77, um chutaço de Benedetti encobre o goleiro do Villa. Era isso. O jogo se findou com uma breve comemoração dos jogadores do County. Ainda havia mais um jogo, mais o título estava sim, garantido. Ao final da temporada, Lautaro Martínez foi o artilheiro da competição e Agustín Rossi o goleiro menos vazado. A defesa e o ataque do County também foram às melhores do campeonato.


Capítulo 5


O Derby estava de volta a Premier League e, de quebra, disputaria uma competição internacional. A política de contratações foi à mesma: jovens com potencial alto de crescimento a curto-médio prazo. A prioridade novamente foram jogadores sul-americanos, mas não necessariamente ativos na América, como Léo Jabá, adquirido ante ao Terek Grozny, da Rússia. Além de Jabá, Zaracho, Han Kwang Song, Gian-Luca Itter, Andre Dozell e Panagiotis Retsos se juntaram ao Derby, todos entre 17-21 anos com certo destaque em seus países. O time teve a saída de vários jogadores, entre eles o capitão Curtis Davies, que foi homenageado pela equipe do County pelos anos duros de trabalho. Isso significava a passagem de Sandler à equipe titular, um forte zagueiro com técnicas apuradas nos quesitos desarmes e cabeceios. O começo da temporada já foi bombástico, vitória sobre o United e Arsenal fora de casa, invencibilidade de oito jogos, primeiras colocações, o Derby estava nas nuvens. A derrota para o Spurs em casa deixou tudo mais terreno. A equipe colecionou alguns tropeços até perto da metade da temporada, onde ocupava o oitavo lugar na tabela. Porém, seus compatriotas de Championship, Sheffield Utd e Aston Villa, eram vigésimo e décimo nono, respectivamente. Sobe o avião do County, estavam nas nuvens. A equipe foi regular ao decorrer da temporada. Em um grupo relativamente tranqüilo na Euro League(Porto, Kasimpasa e Atalanta) a equipe passou em primeiro lugar sem muitos questionamentos. Era, sim, a segunda força do grupo, mas pelos resultados recentes, o County era uma equipe a se respeitar. Derby seguiu apenas na Carabao Cup, pois na FA Cup foi eliminado nas oitavas-de-final pelo Nottingham Forest pelo placar de 1x0.


Mas estava tudo bem. No período de transferências que a coisa ficou ruim. Não por saídas, as baixas foram pequenas, empréstimos de alguns jogadores e venda de veteranos. Zaracho se destacava cada vez mais na equipe e já vinha como um dos melhores da equipe. O Derby havia contratado o argentino Fabrício Bustos, do Independiente, por 12 milhões de libras. Bustos era considerado uma das revelações do campeonato, o time ia, de fato, bem. Mas em três jogos, desandou. Em um jogo contra o Everton, o Derby vencia por 1x0 quando Lautaro Martínez sentiu após uma pancada do zagueiro. Dias depois, foi diagnosticado uma lesão no tendão, que o deixaria fora por 2 meses. Leo Jabá havia sido emprestado ao Ipswich Town e fazia boa temporada. O clube tinha para substituir o artilheiro da Premier League apenas o jovem Kouamé e o norte-coreano Han Kwang Song, este com apenas 3 partidas na temporada.


Capítulo 5


No jogo seguinte, ante ao Newcastle, algo muito confuso ocorreu. Simples. Kouamé marcou cinco gols. Não há mais o que dizer. O jovem explodiu em sua primeira oportunidade e acabou com o jogo. Infelizmente, aos 66 minutos Matej Vydra acusou o que seria posteriormente diagnosticado como distensão na panturrilha. O Tcheco ficaria três meses fora dos gramados. A contratação as pressas de Ferney Otero Tovar, colombiano, foi uma negociação de valor alto, mas o desespero foi o mediador da negociação. Tovar tinha 23 anos e era mais experiente que Kwang Son e Kouamé. Nos primeiros jogos o time sentiu muito a saída de Martínez e Vydra, com muita dificuldade na criação e definição de jogadas. A maioria dos gols vinha de bola aérea. No período final das negociações, a equipe ainda negociou o italiano Varnier e o argentino Foyth, revelação e promessa argentina. Juan Foyth era considerado por muitos comentaristas melhor tecnicamente que Phillip Sandler, o titular do momento, mas Berinjela deu respaldo ao jovem holandês e não o sacou de imediato. A equipe confrontou-se com o Anderlecht nas oitavas da Euro e passou com relativa tranqüilidade, com resultados de 1x0 em casa e 0x0 na Bélgica. O campeonato iria se equilibrando, a equipe se fixava entre o quarto e sétimo lugar na tabela, confortável. O Derby chegou a ficar algumas rodadas na zona de classificação para a Champions, mas o feito era considerado impossível até mesmo para os torcedores.


Claro, os mais ávidos discursavam sobre como seria ter o pequeno County na Champions League, mas ao final de todos os devaneios, a frase ‘’ah, sonhar é muito bom’’ com suas variações, vinha para dar um choque de realidade a todos. Nas quartas-de-final, o County foi testado, talvez ao seu limite. A equipe conquistou um empate sofrido contra o Benfica em Portugal. Benedetti marcou para o Derby e Jonas empatou para o Benfica. A questão é o Benfica massacrou o pequeno time inglês. Foram 24 finalizações contra apenas quatro dos britânicos, o goleiro Rossi foi o destaque da partida. Até por isso, o clima era negativo. Ora, o resultado é ótimo, empate com gols fora de casa. Mas a atuação foi péssima. A pergunta geral era se o pequeno Derby County havia chegado ao seu limite. Neste momento, a Inglaterra inteira acompanhava e torcia pelos feitos do pequeno prodígio. O campeonato já não importava. O contido Berinjela, sempre muito precioso e cuidadoso com as palavras, afirmou que o foco da equipe era com a Euro.


Capítulo 6


Entrava no gramado Pride Park Stadium o 11 que enfrentaria o Benfica naquela noite. Rossi, Riveros, Franco, Sandler e Bustos, Thorne, Xadas, Edwards, Zaracho e Benedetti; Lautaro Martínez. O jovem argentino não estava 100%, havia jogado 60 minutos da partida anterior pela Premier League, mas insistiu em entrevistas que iria estar em campo nesta data. O Benfica vinha com o forte time que havia massacrado os pequenos ingleses em Portugal. O começou frio, mas tenso. O Derby controlava partida no meio-campo, mas sofria com as investidas laterais de Sálvio e Cervi. O Benfica começou a se aventurar fortemente no ataque, e num belo cruzamento de Grimaldo pela esquerda, Jonas testou pro gol. O estádio se calou. O abatimento era evidente. Era o sonho se esvaindo, a luta se findando. O Derby se descontrolou e tomou muita pressão nos minutos finais do primeiro tempo. Foi graças a Rossi e ao capitão Franco que o placar não se tornou catastrófico. Na volta, o técnico sacou George Thorne e colocou Andre Dozell, jovem com velocidade e boa finalização, além de uma qualidade razoável defensivamente. Xadas se adiantou bastante e jogava quase lado a lado com Benedetti. Uma das características do jovem Sandler era sua aproximação na segunda fase defensiva do gramado para dar botes e investidas, surpreendendo os adversários. Isso foi muito bem aproveitado por Berinjela, que posicionou Franco de forma centralizada, de modo que Sandler poderia se adiantar e retornar com mais tranqüilidade. A equipe voltou organizada e trabalhando a bola.


Svilar teve dificuldades quando foi obrigado a fazer bela defesa na finalização de Edwards. Já eram 65 minutos do segundo tempo, o time do Derby estava tranqüilo, mas a linha tênue entre essa sensação e o desespero podia ser sentida a quilômetros. Em uma jogada individual de Benedetti, o colombiano jogou para Lautaro Martínez na meia lua da grande área, o argentino trouxe para direita e fuzilou contra o gol de Svilar. A bola foi rasteira mas com muita força e velocidade. Entrou rente a trave. O goleiro belga fechou os olhos na tipicamente expressão ‘’não, por favor, não’’. O sentimento era geral. O Benfica estava abaixo. Dependia de Sálvio e Cervi para ter alguma atividade ofensiva. No meio, Fejsa estava exausto pelas corridas contra Dozell e Xadas. Uma prorrogação era impensável. Benfica retirou Rúben dias e colocou o meia Pizzi. Também sacou Cervi, bastante cansado, para a entrada do jovem Zivkovic. O jogo ficou mais equilibrado. Pizzi deu mais consistência defensiva e liberava cada vez mais Salvio de obrigações defensivas. Cansado, Lautaro saiu aos 78 minutos para a entrada de Phakami Mahlambi. O jogo estava muito tenso, os dois times faziam um jogo duro, tenso, rígido. Poderia se cortar a tensão com uma faca. As expressões nas arquibancadas eram de equidade de sentimentos. A prorrogação seria quase que como uma loteria, o time menos cansado, o time mais motivado, não se sabe os sentimentos que poderiam definir um tempo extra daquele modo. Ninguém queria isso. O que era estranho. A chance de perder era igual e o sentimento também. Mas queriam que se definissem antes de uma prorrogação. Este tempo extra, seria o grito preso na garganta por mais tempo. É o choro que se prende aos olhos esperando por qual sentimento ele irá representar. Ia ser o céu para uns, mas o verdadeiro inferno para outros. Futebol. O Derby apertou o jogo, finalizou oito vezes em 10 minutos e exigia trabalho de Svilar. A defesa do Benfica estava exausta, assim como o ataque inglês. Otero Tovar havia entrado e dado um ânimo a equipe, mas sozinho é muito difícil de chegar à vitória. Em um lance despretensioso, Dozell finaliza de média distância. A bola desvia em Pizzi e vai a escanteio aos 88 minutos de jogo. Benedetti arruma a bola com muito carinho. Franco, Sandler, Otero Tovar, todos na área, esperando. Os olhos fitando a bola com uma vontade absurda de mandá-la com toda força para aquelas redes. Os defensores estavam atentos, o goleiro Svilar ordenava que se marcassem fortemente o zagueiro Sandler.


Benedetti tinha costume de colocar suas bolas geralmente no segundo pau, com uma curva lenta na descida. Era uma bola aérea eficiente, mas a zaga estava muito atenta. Os segundos que seguiram após o contato do colombiano com a bola são indescritíveis. Tamanha a impossibilidade de se colocar em palavras, que eu mesmo não posso descrever. Todo apaixonado por futebol sabe como aquela bola na área pesa em suas costas. A bola sobe, o seu time precisa colocar ela pra dentro ou afastá-la? É esse o sentimento, é esse o sentimento geral em Pride Park Stadium. A bola viajou de maneira rápida, tendo sua queda da mesma forma. A bola foi jogada para o meio da área. Encontrou um argentino de 1,83m em sua trajetória. Alan Franco se desprendeu da leve marcação de Grimaldo e testou a bola na marca do pênalti. Svilar pulou, mas não adiantava. Era a virada, era a classificação histórica daqueles bravos garotos e daquela empolgada torcida. A reação de Benedetti ao ver a bola encontrando as redes foi de se ajoelhar e aliviar-se. Apenas alívio. A sensação provocada depois de uma pressão inimaginável. Uma pressão que só a mente que a produz pode compreender. Logo após o gol, o árbitro apitou o final de jogo. Os jogadores do Benfica fizeram as honras e logo se foram para os vestiários. A festa dos ingleses foi intensa, muitos gritos e vibrações. Berinjela abraçou Franco pelo que se pareceu 5 minutos ininterruptos, elogiando o bravo capitão dos Rams. O Derby estava nas semis da Euro League. O título começava a passear pelos lábios de toda a Inglaterra. O brilho da taça começava a refletir nos olhos das crianças de Derby. Há anos essa cidade não sentia essa força, esse poder que é o futebol. Após toda a comemoração, no dia seguinte foi anunciado que os Rams teriam que jogar contra o Schalke 04, da Alemanha, caso quisesse sonhar com o título da Euro. A outra semi era composta pelo conhecido Tottenham e a forte equipe francesa do Olympique de Marseille.


No campeonato a equipe seguia com campanha sólida, solidificando-se entre os seis primeiros da competição. Com o foco na Euro, Berinjela aproveitava para dar ritmo aos jogadores do banco, entre eles o zagueiro Foyth e o meia Dozell. O lateral-esquerdo Itter tinha grandes expectativas, mas não conseguiu demonstrar confiança e oscilou muito entre partidas, perdendo por muito a corrida pela posição. As laterais de fato eram um dos pontos fracos da equipe. Um Riveros muito rápido e ofensivo, porém tecnicamente ainda em formação atuava pela esquerda, e Ledley, volante canhoto improvisado na direita dificultavam algumas jogadas da equipe, principalmente em jogos que se exigia um escape pelas pontas.


Capítulo 7


O primeiro jogo contra o Schalke 04 foi na Alemanha e foi bem abaixo das expectativas. As duas equipes pareciam cansadas pelos duros calendários que se seguiam. O Derby vinha com muitos desfalques importantes por lesão. Vydra novamente se machucou, mas dessa vez muito mais sério. O meio tcheco rompeu os tendões do joelho e estava fora da temporada. Bruno Xadas também havia torcido o tornozelo no jogo anterior e era desfalque para essa partida. O holandês Sandler, um verdadeiro arranha-céu na defesa dos Rams, lesionou o joelho e se ausentou por dois meses. Com essa lesão, Foyth herdou a posição e era uma esperança para a equipe inglesa. O placar final foi 1x1, com gols de Embolo para o Schalke 04 e Martínez para o Derby, tudo ficaria á ser decidido na Inglaterra na semana seguinte. No campeonato, mais lesões prejudicavam o Derby. Em um jogo difícil contra o Leicester, o placar magro de 1x0 fazia com que a equipe da casa se defendesse mais do que atacasse, desse modo, Riveros acusou uma lesão na coxa em uma das muitas perseguições a Mahrez na partida. O paraguaio estaria fora para o jogo da volta contra o Schalke 04. Em coletiva pós-jogo, Berinjela se mostrou bem abatido, triste pelas demasiadas lesões que a equipe passava. Neste momento do campeonato, eram seis lesionados na equipe, com quatro titulares entre eles(os lesionados eram Kwang Song, Riveros, Vydra, Sandler,Zaracho e o jovem Max Bird).


Cenário era difícil, mas a equipe vivia grande fase. Foi pro jogo em casa com relativo favoritismo pelo resultado obtido na Alemanha. Partida muito nervosa. Em noite inspirada, Goretzka abriu o placar aos 15 minutos do primeiro tempo com um belo chute da entrada da área, criando uma pressão imensa sobre os ingleses. A equipe sentia muito a falta de Vydra. O escolhido para substituí-lo foi Phakamani Mahlambi(Devido a lesão do reserva imediato, Matías Zaracho). Mahlambi é um jogador rápido e com grande habilidade, mas devido à juventude toma decisões ruins e precipitadas no gramado. O placar adverso logo no começo da partida também complicou a vida dos Rams, que se mostravam afobados errando muitos passes e arriscando finalizações de muito longe. O empate veio ainda no primeiro tempo, cruzamento de Itter encontrou a Benedetti dentro da área. Os jogos do County sempre tem um ar estranho. O resultado era empolgante, o time poderia sentir o gol, sentir sua empolgação e simplesmente amassar o Schalke 04 a partir daí. Mas não. Era sempre uma aura de, ‘’o sonho vai se acabar e vamos perder tudo isso que estamos conquistando’’. Os torcedores queriam mais, a comissão e os jogadores queriam mais. Toda a cidade merecia isso. Após o gol o jogo esquentou. Chegadas mais fortes, cartões distribuídos a rodo para os jogadores. Até o calmo Benedetti perdeu a cabeça e deu uma entrada forte no meia marroquino Amine Harit. O segundo tempo foi igualmente tenso. Muitos combates no meio campo e pouca criação de jogadas ofensivas. Franco e Foyth tinham muitos problemas graças as investidas nas pontas de Harit e Embolo. Pelo meio, Goretzka fazia um combate ácido contra o volante Thorne. Mesmo com os dois amarelados, confusões entre eles eram constantes devido a provocações e fortes entradas. Em um erro de passe de Nabil Bentaleb, Bustos partiu em grande velocidade na direção da linha de fundo. Um passe para trás para Mahlambi que jogou a redonda pra dentro da área. Um bate rebate aconteceu e Thorne encheu o pé. A bola voou no ângulo de Fahrmann e aos 79 minutos do segundo tempo, o Derby virou a partida. O estádio explodiu em felicidade e o abatimento dos alemães não o deixaram reagir.


Era isso. O Derby County estava pela primeira vez na final de uma competição européia. O adversário era o Tottenham Hotspur. A torcida e o time do Derby estavam em êxtase. O campeonato inglês era jogado apenas com jogadores alternativos, mas com muita organização e consciência tática. Os empates vinham aos montes e a equipe conseguiu, com duas rodadas de antecedência garantir a vaga na Euro League do ano que vem via Premier League. Resultado ótimo, já que a diretoria esperava um décimo lugar para esta temporada. Faltando dois jogos para o fim da temporada, a equipe titular viajou á capital para disputar a tão sonhada final da Euro League.


Capítulo 8


Era a final. O estádio de Wembley estava abarrotado. A Inglaterra parou nesse dia. O Tottenham era franco favorito, conhecia Wembley como ninguém. O dia 29 de junho de 2019 entraria pra história do Derby. Todos esperavam um jogo nervoso, com muita dificuldade, afinal, o favorito ainda era o Tottenham, apesar da belíssima campanha dos Rams até a final. O destino foi muito feliz em presentear os ingleses como uma final inglesa na Euro League. O Tottenham não vence um título desde a Copa da Liga Inglesa em 2011. O Derby County havia vencido dois títulos na temporada passada (Carabao Cup e Championship) mas era sua primeira final europeia na história. Cenário que pintaria uma grande final disputada e nervosa para os dois lados.


Definitivamente, não foi isso que aconteceu. O time do Tottenham entrou afobado, correndo muito e tentando acelerar o jogo o máximo possível. Isso se encaixava perfeitamente no estilo de jogo do Derby. O pequeno inglês não era exatamente um time defensivo, mas não eram loucos por atacar. Com cinco jogadores posicionados no meio campo, o time jogava muito pelas laterais explorando a velocidade de seus pontas e também de Lautaro Martínez. Em uma dessas investidas dos Spurs, Dembélé erra um passe e joga a bola nos pés do lateral Bustos. Ele puxa com muita velocidade o contra-ataque e deixa no meio para Benedetti. O colombiano passa com facilidade pelo zagueiro belga Vertonghen e fuzila contra Lloris. O Derby estava vencendo a final. Após esse episódio foi um show de horrores.


Os Spurs se perderam no gramado e logo tomaram o segundo gol, marcado em cabeceio bonito de George Thorne. No segundo tempo não houve mudança, e aos 63 minutos a lei do ex vigorou sobre o Tottenham e Juan Foyth, também em bola área, aumentou a vantagem dos Rams. Era um resultado dos sonhos, o título estava nas mãos. O Tottenham ainda levou o quarto gol, marcado por Lautaro Martínez. O Derby se desligou da partida e o artilheiro Harry Kane marcou dois gols, diminuindo para o Spurs. Mas naquela altura não havia mais esperança. O apito final foi assoprado, e o County era campeão da 48 edição da Euro League. A festa foi infindável. Dias e dias de comemorações. O estádio veio abaixo, os torcedores do Tottenham aplaudiam a equipe do Derby pelo feito incrível realizado. Os jogadores foram até o técnico Berinjela e festejaram demais o brasileiro que então, solidificou-se como o maior técnico da história da equipe, o treinador que sonhou com o título da Champions em cinco anos de trabalho e foi motivo de piada por alguns jornais ingleses. O mesmo Berinjela agora era campeão europeu. Da Euro League, é verdade, mas a vaga para Champions estava garantida e o sonho de ser o maior time do mundo, apenas era alimentado pela garra e força dos jovens jogadores e bravos torcedores, que se sentiam nas nuvens em um verdadeiro sonho terreno.

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